Você faz a prova do Enem, confere o gabarito e soma a quantidade de questões corretas. Meses depois, o resultado vem com um susto: a nota não era nada daquilo que você havia calculado - pode ser maior, pode ser menor, pode até ser próxima, mas dificilmente será o somatório dos seus acertos.
A confusão acontece porque a nota do Enem é resultado de um sistema de correção bem específico, a Teoria de Resposta ao Item (TRI), que tem muito mais a ver com o conhecimento do candidato do que com a quantidade de respostas certas.
Entenda como funciona a TRI e descubra como é feita a correção das provas do Enem!
O que é a Teoria de Resposta ao Item
A TRI é um modelo matemático que tem tudo a ver com coerência. Por um lado, garante que o Enem mantenha o mesmo nível de dificuldade em todas as edições. Por outro, consegue avaliar a consistência do candidato na prova. Mais do que saber quantas questões ele acertou, a TRI avalia se ele consegue resolver os itens fáceis (significa que tem conhecimento básico), médios (detém conhecimento mediano) e/ou difíceis (domina aquele assunto).
A TRI é utilizada em exames de grande porte no mundo todo. Você já ouviu falar em TOEFL ( Test of English as a Foreign Language ou Teste de Inglês como Língua Estrangeira), o famoso exame de proficiência de língua inglesa? Ou do SAT ( Scholastic Aptitude Test - ou Teste de Aptidão Escolar), que é o grande exame americano equivalente ao Enem? Esses dois exames adotam o mesmo modelo de correção.
Como funciona a Teoria de Resposta ao Item
Uma das grandes sacadas da TRI é avaliar o candidato dentro de um contexto geral, e não isoladamente. Ou seja: seu desempenho é analisado em comparação com o desempenho de todos outros candidatos que também fizeram a mesma edição do Enem.
Vamos ver como funciona esse sistema:
-O seu cartão de respostas do Enem é submetido a uma leitura automatizada.
-Por meio de uma complexa rede de cálculos matemáticos, a TRI analisa o grau de proficiência de todos os candidatos. Individualmente, ela analisa a probabilidade de cada um responder corretamente às questões de acordo com o grau de dificuldade de cada uma delas.
-O sistema é programado para entender que quanto maior for o grau de conhecimento de um candidato, mais chances ele tem de acertar um maior número de perguntas em diferentes graus de dificuldade.
-A TRI analisa três aspectos principais: o nível de entendimento do candidato em relação a cada questão, o grau de dificuldade da questão e o acerto ao acaso (chute).
-A coerência é um fator importantíssimo para a TRI. Como é um sistema que mede a proficiência, é natural que leve em consideração o comportamento do participante diante da prova. A TRI entende que quanto maior o conhecimento em determinado tema, maiores as chances de acertar as questões consideradas médias e difíceis. Portanto, aqueles que acertam questões fáceis, médias e difíceis terão uma nota maior, pois apresentaram um comportamento coerente. O mesmo vale para quem acerta mais fáceis e médias. Mesmo quem acerta apenas as fáceis também está sendo coerente.
-A TRI consegue identificar os chutes. Quando um candidato acerta questões fáceis, nenhuma média e algumas difíceis, por exemplo, o sistema entende que não existe ali um comportamento coerente, mas um padrão de resposta aleatória. Isso porque não é normal alguém ter conhecimento básico e avançado num mesmo tema mas não ter um conhecimento médio. A TRI considera esses acertos, mas atribui uma pontuação mais baixa a eles.
Por tudo isso, é comum encontrar pessoas com o mesmo número de acertos e notas diferentes. A nota depende mais do padrão de resposta do que do número de questões acertadas.
As provas também não têm pontuação mínima e máxima, como se costuma pensar. Tudo é calculado de acordo com o desempenho dos candidatos daquela edição do Exame.
Teoria de Resposta ao Item para a Redação
Diferentemente das provas objetivas, a redação do Enem não é avaliada de acordo com a TRI . Isso porque os textos não seguem um padrão estruturado de respostas, como acontece com as provas objetivas.
As redações são corrigidas uma a uma, à mão. São milhões de textos que chegam a passar por até três avaliadores diferentes. Descubra como funciona o processo de correção:
-Todos os textos são digitalizados e colocados num sistema.
-O texto é lido e analisado por dois avaliadores diferentes.
-Os avaliadores não sabem quem estão avaliando e também não têm acesso à análise do colega.
-Cada avaliador dá uma nota a cinco quesitos diferentes. Cada item vale 200 pontos, totalizando 1.000. São eles:
-Domínio da língua
-Desenvolvimento do tema
-Uso de recursos linguísticos
-Capacidade de articular ideias
-Proposta de intervenção social
-Depois, as notas dadas pelos dois avaliadores são somadas e divididas por dois. A partir daí nasce a sua nota na redação.
-Se houver uma diferença muito grande nas notas dadas pelos avaliadores, o texto segue para a análise de um terceiro profissional. Se a diferença persistir, segue para a última instância: uma comissão julgadora.
Existe alguma forma de calcular minha nota no Enem antes da divulgação dos resultados?
Não, pois sua nota pode variar de acordo com o desempenho dos outros candidatos ou não corresponder aos quesitos de coerência da Teoria de Resposta ao Item - o que pode diminuir o valor, mesmo para quem acertou muitas questões.
Somar pontos no gabarito não vai dar uma ideia exata da pontuação. E tem também a redação, que é corrigida manualmente.
A boa notícia é que se você tiver emplacado muitas questões, as chances de ter tirado uma boa nota são altas!
DA REDAÇÃO - TERRA NOTICIAS - 01/02/2017 - SÃO PAULO, SP
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